quarta-feira, 1 de maio de 2013

Marko Ajdaric divulga o grande Encontro Internacional do Sindicalismo Alternativo

Mais de 60 organizações, de diferentes países e quatro continentes, participaram em Paris do Encontro Internacional do Sindicalismo Alternativo de 22 a 24 de março de 2013.

Apostamos em um sindicalismo de confrontação, oposto ao sindicalismo dos pactos sociais; defendemos que a luta é o único caminho para a transformação social; cremos na democracia direta, no sindicalismo de base contra o sindicalismo das cúpulas burocráticas, no internacionalismo, na luta internacional da classe operária e dos oprimidos/as.

Nesta celebração do 1º de Maio, o dia internacional de luta da classe trabalhadora, manifestamos que:

1º - A atual crise econômica, política e social do sistema capitalista empurra os trabalhadores/as e os povos à miséria e atinge em muitos países uma autêntica catástrofe social.

2º - Os governos e instituições internacionais aplicam planos de guerra social e a catástrofe que os acompanha contrasta com as escandalosas ajudas multimilionárias destes governos e instituições aos bancos e contrasta com os vergonhosos casos de corrupção nos quais os chefes do sistema estão envolvidos.

3º - Não se pode seguir assim. Os governos, longe de mudar ante a rejeição social, anunciam novas medidas de cortes trabalhistas, salariais e sociais, novas privatizações e espólios de países inteiros.

A defesa das e dos trabalhadores e dos povos exige a luta resoluta contra este sistema que leva a humanidade à barbárie e à destruição do planeta. É necessário abandonar toda falsa ilusão de políticas de pacto social com os governos que levam a cabo estes planos de guerra social. Não há volta atrás neste processo de luta.

4º - A classe operária mundial e em particular a europeia que hoje realiza combates decisivos contra os governos da troika devem opor a estes planos de guerra social nossas próprias medidas e soluções que deem uma saída social e popular a esta crise.

Por isso dizemos:

Abaixo os planos de austeridade! Revogação imediata dos cortes e das reformas trabalhistas!

A defesa de um salário digno, do emprego, da previdência social e da educação pública exige que as múltiplas lutas parciais, por empresa e por setores que percorrem o velho continente se unifiquem em torno de uma demanda urgente: Fora os governos e as políticas de austeridade! Que se vão! Não há volta atrás!

Nós dizemos que sim, há recursos, que pode ser dada uma saída à crise a partir da defesa dos interesses operários e populares. Mas isso exige levar a cabo medidas determinadamente anticapitalistas. Por isso defendemos a suspensão imediata do pagamento da dívida, uma dívida ilegítima que as e os trabalhadores e o povo não contraíram.

A luta pelo emprego, pela repartição do trabalho e da riqueza exige arrancar das mãos dos especuladores e banqueiros os recursos financeiros. Nacionalização sem indenização do sistema financeiro e das empresas chave; reforma fiscal pelas quais paguem mais os que mais têm, para pôr todos esses recursos a serviço do único plano de resgate que está faltando, um Plano de Resgate das e os trabalhadores e da maioria social (os 99%).

5º - A classe trabalhadora, conjuntamente com outros movimentos sociais, protagonizaram as lutas com as e os oprimidos do mundo. Devemos, portanto, levantar as bandeiras da luta contra o machismo e todas as formas de opressão das mulheres; as bandeiras da luta contra a xenofobia ,o racismo e qualquer forma de opressão aos trabalhadores imigrantes; e as bandeiras de luta pelo direito de autodeterminação dos povos, pela defesa do direito de todas as nacionalidades oprimidas a exercer sua soberania. Sem a luta consequente contra todas estas formas de opressão não será possível a unidade da classe operária para a transformação e justiça social.

6º - Em um dia de luta internacional, como é o 1º de maio, não pode faltar a solidariedade mais decidida com todos os trabalhadores/as e povos do mundo que enfrentam o imperialismo e as ditaduras. Em especial nossa solidariedade com os povos árabes, do Oriente Médio, com as comunidades indígenas e com todas as lutas populares.

7º - As organizações do sindicalismo alternativo internacional comprometem-se a preparar um 1º de maio internacionalista e de luta, chamando as demais organizações do sindicalismo alternativo e os movimentos sociais para organizar grandes atos e manifestações alternativas às do sindicalismo institucional e burocratizado, que sejam uma referência clara de classe e combativo.

8º - A particular situação que vivemos no continente europeu e a experiência recente do último 14 de Novembro nos exige levar a cabo toda uma atividade de explicação, coordenação e iniciativas para batalhar por uma nova greve geral continental, que tenha continuidade até que revoguemos as políticas da troika e os trabalhadores/as do mundo sejamos os protagonistas de uma nova sociedade baseada na democracia participativa, na liberdade e na justiça social.

Minha solidariedade ao divulgar

Marko Ajdaric

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Arquivo do Neorama dos Quadrinhos - edição 826

Na edição 826 do Neorama dos Quadrinhos (http://www.neorama.com.br/), a mais ampla newsletter da Nona Arte do mundo, de 13/AGO 2011, Marko Ajdaric publicou as seguintes notícias:

Em INGLÊS

Gil Jourdan em inglês
Time búlgaro na arte de GNo da IDW
Entrevista: Mike Mignola
Stumptown Comics Fest e Festival do MoCCA serão no memso fim de semana
50 anos de Universo Marvel
GNo de Scott Chantler ganha edição em capa mole
Nana 13, pela Viz
René Goscinny, Harvey Kurtzman, Jack Kirby...em capa dura
Drawn & Quarterly: Nikola Tesla, Napoleão e Nancy Drew são personagens de Kate Beaton
Yen Press: o Cáucaso à moda de Kaoru Mori
Bleach 34, pela Viz
Anna Bas Backer entra na Comiclopedia
Assim a Disney vê o roteiro na animação
Dark Horse Presents 3
Batman 80-Page Giant 2011 1
Brian Michael Bendis e Gabriele dell'Otto: New Avengers Annual 1
Os i-comics vão acabar com as comic shops?
Entrevista: Brian Michael Bendis
Shakespeare segundo Stan Lee
RiP Rumen Dragostinov
Programa da SPX 2011

Em PORTUGUÊS

A história de D.B. Cooper pela Oni Press
'Sequência' de 'Memórias de um Sargento de Milícias' em HQ (nota do Neorama: 7,75)
Wellington Srbek e Will: resenha de 'Ciranda Coraci': Nota do Neorama (8,5)...
...versão para iPhone e iPad
Imagens do animê de Iron Man
Notícias curtas de Spider-Man, Green Arrow, Punisher, Rob Liefeld e Scott Snyder
Paraná: agora a Quadrinhópole é editora de quadrinhos virtuais
Resenha: Gil Vicente por Laudo Ferreira e Omar Viñole
Registro da 325a Tertúlia BD de Lisboa
Spider-Man mestiço tenta melhorar imagem da Marvel, mas ainda é pouco
Animaserra 2011
Aardman: o maior set de animação em stop motion do Mundo
Johnny Depp investe em adaptação de graphic novel
Bastien Vivès e David B. na agenda da BarbaNegra
Kurt Busiek: a DC Comics anuncia Astro City como revista mensal
Bira Dantas na Bahia
Livro coletivo sobre super-heróis
2o HQCon em Florianópolis
A volta de Animal Man
50 anos do Quarteto Fantástico
Exposição do Ilustra Brasil em Shangai
O novo Wolverine
Schtroumpfs: filme terá sequência
A obrigatória 'Drifting Life', de Yoshihiro Tatsumi
Paperino 374
Coletânea do Pestana
Thomate colhe frutos
3º Festival Internacional de Humor do Rio
Super-heróis multiculturais para salvar o mundo
Rodolfo Zalla e a volta da Calafrio
Filme de Green Lantern decepciona...
...site brasileiro do filme
A Marvel coloca 3500 revistas à venda em formato digital
O Pinocchio de Winshluss vai sair no Brasil
Os selecionados do 38º Salão Internacional de Humor de Piracicaba
Gibiteca de Fortaleza: as mudanças anunciadas ainda não foram concretizadas
Até árabes querem a Turma da Mônica

Em CASTELHANO

DC Comics em castelhano por nova casa editora
Brais Rodríguez e Ana Miralles, na agenda da Astiberri
Autobiografia de Hayao Miyazaki
Bastien Vivès e Michaël Sanlaville, com selo Diábolo
Resenha de Polina do 'gênio' Bastien Vivès
Novo animê de Hunter x Hunter
O Viñetas con Altura viu o lançamento de 6 obras bolivianas
Joseph Ratzinger, o mangá
Pumby está orfão
'Del Tebeo al Manga' volume 8
Entrevista: Boligán
Viñetas desde o Atlántico, tema de entrevista
Revista CLIJ 242
50 anos de Universo Marvel
Fierro 58
O novo de Joann Sfar
Filme dos Schtroumpfs: bom momento para a Tebeosfera falar de Johan et Pirlouit
Novo festival portenho de curtas de animação
Muestra Mundial de Caricatura Valle de Aburrá 2011
Capitán Trueno: Victor Mora satisfeito com o filme

Em ITALIANO

50 anos de Fantastic Four
A Planeta DeAgostini deixa de publicar a DC...em castelhano
Narnia Fumetto 2011: dada a largada
O próximo Blake et Mortimer
O retorno de Joe Palooka
Nova publicação com selo MUF
Julia 156
Dylan Dog 300

Em ALEMÃO

Nick Abadzis: novos finais para 'Laika'
Patrick McEown aposta no estilo europeu...
Patrick McEown na Comiclopedia

Em FRANCÊS

Poucas mulheres fazem BD
O novo de Joann Sfar
Boule & Bill segundo Munuera
Casemate 40
Ensaio sobre Vittorio Giardino
Spirou 3826
New York 1947, thriller político da Akileos...
...studio de Ronan Toulhoat
O impossível à moda da Marabout...
...blog de Nathalie Jomard
Nova série de Luc Brunschwig
O Drácula de Corbeyran...
...site oficial de Serge Fino
O novo de Matthias Schultheiss
Mais Mosdi na coleção Soleil Celtic
Brincando de Deus à moda da Sandawe
A França americana, tema do novo álbum de Patrick Prugne pela Daniel Maghen...
...Patrick Prugne, segundo a Asa
Entrevista com os autores do novo Gaston Lagaffe
As belezas de Praga, em guia da Casterman
'Les Schtroumpfs' em 3D faz suceso na Bélgica
Tel Aviv: Plantu, estrela do 11o Animix


sexta-feira, 25 de junho de 2010

Yes, nós temos jornalismo em quadrinhos



Depois de muitos países (ou lugares distantes, como é Malta), chegou a hora do jornalismo em quadrinhos ser levado a sério, no Brasil. Quem sabe, assim, mais gente tenha acesso a algo diferente do que o 'mais do mesmo'.


A Caros Amigos, que divide com a Piauí o posto de ser das melhores revistas do Brasil, acolheu uma proposta de jovens criativos e começou a publicar uma série em quadrinhos sobre a Bolívia em preto e branco (originalmente, a obra foi concebida em cores). Pra que você corra pra banca, primeiro, sugerimos a leitura do comunicado de imprensa, claro e objetivo. Na sequência, vamos ao lado sub-jetivo: o saldo do e-papo que mantive com 3 dos criadores. Sigam-me os bons!

1) O salar está café


A reportagem em quadrinhos “O salar está café” foi uma iniciativa dos jornalistas Natalia Viana e Alexandre Casatti após uma longa viagem pela Bolívia, em que cobriram as eleições presidenciais de dezembro de 2009. Além de escrever para sites e revistas (Opera Mundi, retratos do Brasil, Revista Forum) a dupla, acompanhada pelo fotógrafo Chris Von Ameln, elaborou um guia turístico sobre o país andino para a editora Abril.

Mesmo assim, faltava algo; durante o trajeto, algumas situações e cenas revelavam outros grandes problemas da Bolívia hoje em dia: uma conversa com um antigo morador do Salar de uyuni, uma frase de uma turista estrangeira, uma senhora vendendo frutas nas ruas de La Paz. E principalmente, o fato do Salar estar marrom, coisa que muitos moradores do país nunca tinham visto – efeito da estiagem causada pelo aquecimento global.

Mas seriam essas cenas e testemunhos material jornalístico? Acreditamos que sim, mas não no formato tradicional. Por isso decidimos aliar a intimidade e a liberdade dos quadrinhos com a informação e a apuração jornalística. Usamos trechos de entrevistas, estudos sobre o fenômeno climático e sobre as eleições para o roteiro. O fotógrafo Cris Von Amels usou como base para as ilustrações, fotos que ele tinha tirado no caminho, retratando a cada quadro uma cena real e presenciada pelo grupo. A editora de arte Marina Chevrand encarou outro desafio: fazer o design definitivo da história, mantendo o fluxo da narrativa e valorizando as imagens.

O formato de reportagem em HQ permite muitas soluções, e também muitos desafios. Permite, inclusive, um efeito de dramaticidade e de proximidade raramente encontrado em reportagens da mídia tradicional. No final, o interessante é que os quadrinhos podem tartar de temas muito relevantes para um público mais amplo. E o projeto não para por aí; já estamos trabalhando em outras “reportagens” em quadrinhos, afim de explorar as potencialidades desse casamento entre jornalismo e novelas gráficas – algo ainda bastante novo no Brasil.

2) Nunca vai ser o mesmo que presencial, mas eu conversei online com 3 pessoas da entusiasmada turma: Natália, Alexandre e Marina.

Natália nos contou que já era sua 4a ida ao país, para acompanhar a (re)eleição de Evo Morales e - segundo ela - os avanços sociais do país vizinho.

Mas a experiência de ver uma montanha que era um local de esqui em 1996 sem nenhuma neve deu um click nela: como mostrar, com personalidade algo que não sumisse entre as hard news...?

A ideía de fazer uma HQ que contagiou o fotógrafo e desenhsta Chris Von Ameln e, no final. Marina fez a 'produção'

Para quem quiser se entusiasmar, vale lembrar o que Alexandre nos revelou: a negocciaçã não foi fácil. Aliás, o processo inteiro em si é lento.

Mas é preciso desovar as ideias da cabeça, como lembrou Marina. O interessante (ou re-levante) é que foram os jornalistas de mais longa rajetória (e não os menos experientes. Imagino que isso tenha a ver com o raro viés que Natalia colocou: além do interesse: há de se ter presencialidade, empatia, e atenção...

Assim, o Brasil não tem só um e -group (aqui), tem também, uma porta aberta. Vamos que vamos! Foram só as 3 primeras de muitas páginas

Marko Ajdaric

sexta-feira, 19 de março de 2010

'Roko-Loko e Adrina-Lina - Hey ho, Let's Go!'

'Roko-Loko e Adrina-Lina - Hey ho, Let's Go!' é a mais nova coletânea de quadrinhos curtos de Marcio Baraldi, publicados originalmente na revista Rock Brigade, entre 2004 e 2006. O livro - 12º da carreira - tem 50 páginas coloridas em formato grande, capa cartonada ao preço módico de R$ 10, com direito a miolo em papel couché. O lançamento é da editora GRRR!... (Gibi Raivoso, Radical e Revolucionário!, selo criado pelo próprio Baraldi) e da Rock Brigade, mas ainda traz uma página que associa a trajetória do Baraldão à editora que o apoiou durante anos: a Opera Graphica. O álbum (e os bonecos derivados da série Roko Loko) podem ser adquiridos através do endereço eletrônico http://www.idealshop.com.br/baraldi

.

O cara

As obras de mestres que já conseguiram garantir seu lugar definitivo na história da nona arte, como Cocco Bill de Jacovitti, 300, de Frank Miller e El Eternauta, de Héctor Germán Oesterheld, no geral, são analisadas por cronistas de forma muito concêntrica: quase sempre, os pontos altos destacados são os mesmos. No caso de Baraldi, acontece o contrário: gente bacana, atenta e que entende do riscado sempre vai apontando vários detalhes e nuances diferentes de suas criações.

Outro detalhe é a forte presença de Marcio Baraldi como pessoa única, que acredita no que faz, e se afirma co
m uma força incrível, ao defender seu trabalho, inclusive usando imagens promocionais como esta aí de cima, que dá uma imagem parcial de sua pessoa. Não dá para se alongar muito numa resenha, mas quem pesquisar a vida do nosso autor, vai perceber o quanto a postura de Baraldi, de ser o (aspas) 'melh
or marketeiro de si mesmo do quadrinho nacional' é fruto de uma história de muita superação e afirmação. O melhor retrato dessa vida está num veículo de papel (que não tem versão online): a revista Graphiq . Online, sugerimos uma anti-entrevista dele comigo, em vídeo.

Dificilmente, alguém resenha um livro dele sem se referir a esse caráter marcante. O que importa ressaltar é que essa garra gera um artista que - como nenhum outro, no Brasil - vai atrás do olho-no-olho do leitor, do tal de feedback. Como não temos, ainda, no Brasil, um calendário constante de festivais onde os artistas interagem com o público, Baraldi faz de suas andanças seu próprio festival.

Mas é preciso sublinhar o Baraldi quase sempre esquecido: ele é dos raríssimos nonoartistas que já têm em casa um Prêmio Vladimir Herzog, foi o quadrinhista escolhido pela melhor revista espírita do Brasil para ilustrar o adeus a esse gigante da sensibilidade pátria que foi Chico Xavier e é autor das ilustrações de 4 livros por uma editora que é sinônimo de cuidado: a Salesiana. Dois deles são emblemáticos do humanismo que habita o coração do Baraldão: 'Cultura de Paz', que 'mostra que é possível construir a paz a partir de posturas simples' e tem a organização do CONIC e 'Geopolítica: O Mundo em Conflito', de autoria de Igor Fuser, na minha opinião, um dos mais brilhantes cérebros da geração de estudantes que reconstruíram a UNE. O biografema se completa ao registarmos que - depois de 23 anos de carreira - Baraldi bate ponto num sindicato de trabalhadores, no centro nervoso de São Paulo, sempre atento a como melhor deslindar os excessos da 'nossa' classe dominante.

A obra

Mais uma vez, Baraldi teve o cuidado (e esforço) de reunir variados depoimentos, para ajudar a situar a sua produção. Num dos textos, encontramos a comparação do editor da (saudosa) Opera Graphica, o mestre Franco de Rosa, chamando o Marcio de 'Carl Barks do quadrinho despachado'. Tomo o despachado aqui em outro e bom sentido: a do artista cujas ideias fervilham, borbulham, brotam em revoadas. Mas essas ideias são lapidadas com mão de quem conhece bem o ofício.

Para expor suas ideias únicas, Baraldi acrescenta um vasto repertório técnico. Começamos pelo mais difícil: o uso da cor. Claro, cores fortes, rock-n'roll e alegremente vistosas, mas com um senso de dosagem que não é nada comum: em momento nenhum, a explosão visual 'briga' com as estórias. O mesmo, em linhas gerais, podemos (e devemos) dizer do letreiramento, outra gama de técnicas e possibilidades que o artista usa e (não) abusa. O trabalho no item letras é completado com distinção nos títulos das HQs e nas onomatopeias. O desenho merece atenção na capacidade de variações. Olhando atentamente, há personagens inteiros que parecem não ter sido traçados pela mesma mão.

Pois bem, o Baraldi colorista, desenhista, arte-finalista e titulador se completa - mesmo - em sua essência, quando se funde com o narrador. O cara que escolhe o que (e o que não) mostrar, como, e em que ritmo. Baraldão pega situações muito particulares de um determinado grupo social e as mostra com tanta propriedade que imediatamente damos (em nossa mente, certo?) 'carne' a bandas e artistas que às vezes são apenas - para muitos leitores - referenciados em notas curtas de noticiários. Uma lição fundamental, já que o artista se propõe a divulgar o rock nacional, assume essa bandeira e nos convence de uma forma muito capaz e às vezes, insinuantemente insolerte. Cuidado com os muitos e bem aplicados 'cacos' que incluem um Napoelão doidão, velas e caveiras de todos os tamanhos e muito mais. Esses cacos ficam mesmo 'espetados' na memória...

Onde nosso artista escorrega: num ou noutro trocadilho, e, na boa, o álbum precisava ter a indicação, clara, na capa, de que não é leitura 'para crianças'. Uma sugestão é que o Baraldi tente usar mais vezes o espaço em branco em volta da ação, para alterar o ritmo (onde o fez, fez legal...), Para os muitos amigos mais fiéis, fica a sugestão de usar a página 41 (onde está a HQ de uma página só 'Eu Apóio o Metal Nacional) como poster dos rockeiros. Lá, também (aspas), 'de graça', o último quadrinho dá um excelente button...

Mas o melhor está no final, onde são publicadas tiras, quase todas, de 3 quadrinhos: as duas últimas tiras são excepcionais mostras de ritmo e originalidade. Daquelas que 'incomodam' quando a gente fica tentando imaginar o que mais inventar no formato tiras. Baraldi não só inventa como arrebenta...

Como todo bom quadrinho, Roko Loko não vai te largar quando você o depositar em sua estante. Ele vai te fazer pensar, lembrar e rir muito tempo depois...

As extensões pra frente

Não seria justo fechar sem mencionar que o Baraldi é dos caras que ajuda a classe a se ver, se fortalecer e se pensar. Ele promove premiações, entrevistas e muito mais, levantando a bola dos outros, em bem da Nona Arte, no geral, quase sempre, publicando conteúdo a respeito no site Bigorna. Não por acaso, artistas como Mozart Couto comparecem no álbum com desenhos como esse aí de cima, incluído no álbum.
Ah, se todo 'marketeiro' fosse assim...

domingo, 14 de março de 2010

Reinhard Kleist na Ilha revolucionária

Uma das coisas boas que a Internet propicia é acelerar a difusão de novas criações que dificilmente 'interessam' a quem detem os meios de in-comunicação tradicionais. Nas artes em geral, e nos quadrinhos, em particular, o contato translateral continuado tem permitido que muitos artistas bons sejam publicados no Brasil, como é o caso de Reinhard Kleist, que teve seu 'Cash - I See a Darkness' publicado pela 8Inverso, editora nova de Porto Alegre (onde esteve para uma oficina, em 2009). No mesmo giro pelo Brasil, ele foi artista convidado da última edição do grande festival de quadrinhos, o FIQ BH.

A notícia da nova obra do quadrinhista alemão pode partir de um texto de uma fonte muito bem referenciada: o Instituto Goethe, sobre 'Havanna'

Aventura, um país fascinante para viajar, jogo do azar e fracassos: é isso que Kleist associava com o país revolucionário Cuba e o seu líder político carismático Fidel Castro. Em março de 2008, a curiosidade levou o quadrinhista a passar um mês na ilha, pois ele queria formar uma opinião própria sobre o país e os seus habitantes. Kleist consegue captar o clima nas ruas de Havana e a situação de vida da população rural em esboços, ilustrações pitorescas e episódios em quadrinhos. 'Havanna - Eine Kubanische Reise' (Havana - uma Viagem Cubana, 2008) é um relato de viagem biográfico marcado pelas impressões subjetivas do quadrinhista.

Parece que o artista da 'sofisticada arquitetura das páginas' ficou mesmo muito impressionado com o que viu na Ilha. A editora alemã de quadrinhos Carlsen - que brinda seus leitores com obras de mestres modernos da nona arte como Régis Loisel, Gradimir Smudja, Yslaire, Craig Thompson e Shaun Tan e de autores que renovaram a cena alemã, como Flix e Isabel Kreitz - publica este mês 'Castro', obra de 216 páginas em capa dura na qual Kleist se baseia na autobiografia de Fidel. Nós ainda não tivemos acesso ao volume. Mas se ele somente 'repetir' páginas primorosas como as desta galeria, de seu 'Havanna', já terá contribuído para firmar seu nome na lista definitiva de melhores autores desta (rica) década para os quadrinhos mundiais. E ajudado a mostrar mais faces do povo e da história de Cuba...

Por outro lado, vamos acreditar que foi só 'por que não havia Internet', que demoramos 40 anos para ver publicada no Brasil a única obra da história pela qual um quadrinhista foi assassinado (junto com 4 filhas suas). Exatamente, 'Che', de Héctor Germán Oesterheld e Enrique e Alberto Breccia, obra com a qual começou toda a iconografia de Che Guevara.

Um registro importante sobre a obra: como noticiam os colegas do Portal Imprensa, pode ser que em breve, os democratas da América Latina possam desenterrar do armário da memória a frase: 'a justiça tarda mas não falha'.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Salão de humor da anistia

A Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília, recebe, nesta quarta-feira (dia 9 de dezembro), às 20:30 horas - os chargistas Claudius, Gougon, Guidacci, Lopes, Luiz Gê e o filho de Henfil, Ivan Souza (que ainda este ano lançou o Instituto Henfil). Eles autografarão exemplares do livro 'Salão de Humor da Anistia', livro lançado em comemoração aos 30 anos da Lei da Anistia pelo Programa Senado Cultural, em colaboração com o Centro de Memória Digital da UnB.

A publicação reúne, várias charges políticas produzidas sobre o tema e seu contexto histórico. Além dos chargistas que participarão da sessão de autógrafos, também estão incluídas no livro trabalhos de Chico Caruso, Glauco, Jaguar, Lan (
o argentino mais brasileiro do Rio), Nani, Otávio e Ziraldo. Os trabalhos foram publicados no Correio Braziliense, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O Pasquim, Movimento, Folha da Tarde e Jornal de Brasília.

O livro - rganizada em seis capítulos - é um instrumento para recuperar e divulgar a memória das artes gráficas do Brasil. A organização do volume, textos e edição de imagens são de Marcos Magalhães, consultor do senado.

O levantamento feito por Magalhães retrocede à crise instalada com o Pacote de Abril, em princípios de 1977: os artistas criaram personagens que refletiam o ambiente político da distensão. Lan concebeu a figura imaginária do jornalista, interlocutor sem censura dos políticos da transição. Claudius desenvolveu Malaquias (a consciência crítica da chamada Abertura) e Ernestino (o saudosista deslocado da Ditadura). Henfil criou Ubaldo, o Paranoico, o Sargento Flores e Xabu, o provocador.

Com informações da Agência Senado

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Balaiada

Marko Ajdarić entrevista Iramir Araújo, autor de Balaiada - A Guerra do Maranhão - confira as ilustrações


Marko Ajdarić
Que apoios vocês tiveram para realizar a Balaiada em Quadrinhos?

Iramir Araújo

Basicamente da Secretaria de Cultura do Estado [do Maranhão], na gestão do então secretário Joãozinho Ribeiro. Na verdade, no governo anterior (que foi tirado por decisão da Justiça)

Marko Ajdarić
Quantos exemplares foram impressos? Como anda a distribuição?

Iramir Araújo
1000 exemplares. Fiz um lançamento onde vendi uma boa quantidade, pus em algumas livrarias locais, onde a aceitação tem sido boa, tenho recebido alguns pedidos pela Internet e, vez em quando, como há 15 dias, por exemplo...participei de um evento na Universidade Estadual [UEMA], onde também pus à venda o livro, e vendi alguns exemplares.

No geral, a opinião sobre o trabalho é positiva. A exceção, até agora, é da revista 'Mundo dos Super-heróis', que viu méritos apenas na qualidade gráfica e na iniciativa.

Marko Ajdarić
Os quadrinhos no Maranhão já tem uma tradição acumulada de falar sobre a realidade do seu estado. Isso não cessou com o desaparecimento precoce de Joacy Jamys(1). Pode nos falar dessa relação, e de como você se encaixa nela?

Iramir Araújo

Eu, na verdade, sempre discuti com os parceiros de quadrinhos daqui sobre essa idéia. Falarmos do que temos. Sendo mais amplo: Acho que nós, brasileiros, temos um manancial imenso de temas, cenários e possibilidades para mostrar em quadrinhos. Não compreendo essa obsessão por supers-qualquer-coisa. Então... não se trata de falar apenas do Maranhão. Mas falar também do Maranhão. Podemos criar histórias fantásticas, com a inesgotável matéria-prima que temos.

No meu caso, os personagens e histórias que crio, têm profunda ligação com o nosso cenário. A exemplo do Augusto dos Anjos - Caolho (2)...

Marko Ajdarić
(que recomendo a todos os leitores)

Iramir Araújo

...é a aplicação da velha máxima: Sejamos universais. falemos de nossa aldeia.

Marko Ajdarić
Isso se aplica também ao trabalho de cunho mais (digamos) educacional? Me refiro ao seu trabalho Gatos Pingados (3), sobre juventude e AIDS?

Iramir Araújo
Sim. também. E olha que são temas universais. Que a molecada de qualquer lugar precisa conhecer. A Secretaria de Saúde de Alagoas pediu autorização para reproduzir uma das histórias de 'Gatos' Então, a juventude de lá, embora o cenário seja São Luís, irá se identificar com o tema.

Marko Ajdarić
Por falar nisso, o Neorama dos Quadrinhos, na esteira das mostras mundiais de quadrinhos, pretende imprimir a HQ inteira da 'Balaiada', em locais como parques e universidades, em grande formato. Como você vê essa iniciativa?

Iramir Araújo

Acho fantástica! só lamento não ter tido condições de levantar, aqui, recursos para apoiar essa iniciativa.

Marko Ajdarić
bem, outras pessoas podem apoiar, claro...

Iramir Araújo
Ficarei extremamente feliz e orgulhoso. Isso para mim, tem um significado claro: o trabalho tem qualidades para se sustentar.

Marko Ajdarić
Como vocês conseguiram ser pauta de uma revista de circulação nacional? confira publicação

Iramir Araújo
Enviei o livro para algumas revistas de circulação nacional. a Carta, a Isto É, a Brasileiros... Destas, a Carta, respondeu e pautou a resenha. A Caros Amigos solicitou autorização para utilizar parte das ilustrações em um dos fascículos da sua atual série "Negros", se não me falha a memória.

Marko Ajdarić
A jornalista Camila Alam, no meu entendimento, no espaço que teve, mostrou bem os méritos da obra. Mas, por falar na obra, em si: o seu colega Beto Nicácio já tinha mostrado em 'A Lenda de Ana Jansen' um notável uso do recurso de mudar o rumo da estória. Agora, num livro em quadrinhos sobre história, vocês 'introduziram' um novo fôlego ao final, que, com certeza, vai ficar retido na memória dos bons leitores, ao abordar o papel dos negros no conflito.

Iramir Araújo
Beto é um artista que detém inúmeros recursos gráficos e narrativos.

Marko Ajdarić
De quem foi essa feliz idéia?

Iramir Araújo
Bom... A Balaiada foi um movimento em que os negros tiveram um papel preponderante. Na verdade, fundamental. Não poderiam, sob nenhuma circunstância ficar de fora, sob pena de a história ficar "aleijada"

Marko Ajdarić
Então, de onde veio a idéia de 'deixar a questão para o final', dando um novo relevo à narrativa?

Iramir Araújo
A Balaiada "oficialmente" se encerra com a morte de Cosme. Mas, como ficou claro, (pelo menos acho que sim) os negros continuaram se sublevando... fugindo, constituindo quilombos...

Marko Ajdarić
Quais os novos projetos de Iramir Araújo?

Iramir Araújo
Estou desenvolvendo (em fase de pesquisa bibliográfica e iconográfica) um projeto que deverá ficar pronto em 2012. Trata-se de contar em quadrinhos a invasão dos franceses no Maranhão e a fundação da cidade de São Luís, que completará 400 anos..

Marko Ajdarić
Esperamos estar 'aqui', para ajudar a noticiar. Muito obrigado, Iramir!

Iramir Araújo

Eu é que agradeço! Sucesso e longa vida ao Neorama! E, é claro, às suas iniciativas...que sejam frutíferas.

(1) Joacy Jamys
(2) Augusto dos Anjos
(3) Gatos Pingados
4) A Lenda de Ana Jansen