O cara
A obra
Mais uma vez, Baraldi teve o cuidado (e esforço) de reunir variados depoimentos, para ajudar a situar a sua produção. Num dos textos, encontramos a comparação do editor da (saudosa) Opera Graphica, o mestre Franco de Rosa, chamando o Marcio de 'Carl Barks do quadrinho despachado'. Tomo o despachado aqui em outro e bom sentido: a do artista cujas ideias fervilham, borbulham, brotam em revoadas. Mas essas ideias são lapidadas com mão de quem conhece bem o ofício.
Para expor suas ideias únicas, Baraldi acrescenta um vasto repertório técnico. Começamos pelo mais difícil: o uso da cor. Claro, cores fortes, rock-n'roll e alegremente vistosas, mas com um senso de dosagem que não é nada comum: em momento nenhum, a explosão visual 'briga' com as estórias. O mesmo, em linhas gerais, podemos (e devemos) dizer do letreiramento, outra gama de técnicas e possibilidades que o artista usa e (não) abusa. O trabalho no item letras é completado com distinção nos títulos das HQs e nas onomatopeias. O desenho merece atenção na capacidade de variações. Olhando atentamente, há personagens inteiros que parecem não ter sido traçados pela mesma mão.
Pois bem, o Baraldi colorista, desenhista, arte-finalista e titulador se completa - mesmo - em sua essência, quando se funde com o narrador. O cara que escolhe o que (e o que não) mostrar, como, e em que ritmo. Baraldão pega situações muito particulares de um determinado grupo social e as mostra com tanta propriedade que imediatamente damos (em nossa mente, certo?) 'carne' a bandas e artistas que às vezes são apenas - para muitos leitores - referenciados em notas curtas de noticiários. Uma lição fundamental, já que o artista se propõe a divulgar o rock nacional, assume essa bandeira e nos convence de uma forma muito capaz e às vezes, insinuantemente insolerte. Cuidado com os muitos e bem aplicados 'cacos' que incluem um Napoelão doidão, velas e caveiras de todos os tamanhos e muito mais. Esses cacos ficam mesmo 'espetados' na memória...
Onde nosso artista escorrega: num ou noutro trocadilho, e, na boa, o álbum precisava ter a indicação, clara, na capa, de que não é leitura 'para crianças'. Uma sugestão é que o Baraldi tente usar mais vezes o espaço em branco em volta da ação, para alterar o ritmo (onde o fez, fez legal...), Para os muitos amigos mais fiéis, fica a sugestão de usar a página 41 (onde está a HQ de uma página só 'Eu Apóio o Metal Nacional) como poster dos rockeiros. Lá, também (aspas), 'de graça', o último quadrinho dá um excelente button...
Mas o melhor está no final, onde são publicadas tiras, quase todas, de 3 quadrinhos: as duas últimas tiras são excepcionais mostras de ritmo e originalidade. Daquelas que 'incomodam' quando a gente fica tentando imaginar o que mais inventar no formato tiras. Baraldi não só inventa como arrebenta...
Como todo bom quadrinho, Roko Loko não vai te largar quando você o depositar em sua estante. Ele vai te fazer pensar, lembrar e rir muito tempo depois...
As extensões pra frente
Não seria justo fechar sem mencionar que o Baraldi é dos caras que ajuda a classe a se ver, se fortalecer e se pensar. Ele promove premiações, entrevistas e muito mais, levantando a bola dos outros, em bem da Nona Arte, no geral, quase sempre, publicando conteúdo a respeito no site Bigorna. Não por acaso, artistas como Mozart Couto comparecem no álbum com desenhos como esse aí de cima, incluído no álbum.
Ah, se todo 'marketeiro' fosse assim...
As obras de mestres que já conseguiram garantir seu lugar definitivo na história da nona arte, como Cocco Bill de Jacovitti, 300, de Frank Miller e El Eternauta, de Héctor Germán Oesterheld, no geral, são analisadas por cronistas de forma muito concêntrica: quase sempre, os pontos altos destacados são os mesmos. No caso de Baraldi, acontece o contrário: gente bacana, atenta e que entende do riscado sempre vai apontando vários detalhes e nuances diferentes de suas criações.
Outro detalhe é a forte presença de Marcio Baraldi como pessoa única, que acredita no que faz, e se afirma co
m uma força incrível, ao defender seu trabalho, inclusive usando imagens promocionais como esta aí de cima, que dá uma imagem parcial de sua pessoa. Não dá para se alongar muito numa resenha, mas quem pesquisar a vida do nosso autor, vai perceber o quanto a postura de Baraldi, de ser o (aspas) 'melh
or marketeiro de si mesmo do quadrinho nacional' é fruto de uma história de muita superação e afirmação. O melhor retrato dessa vida está num veículo de papel (que não tem versão online): a revista Graphiq . Online, sugerimos uma anti-entrevista dele comigo, em vídeo.
Dificilmente, alguém resenha um livro dele sem se referir a esse caráter marcante. O que importa ressaltar é que essa garra gera um artista que - como nenhum outro, no Brasil - vai atrás do olho-no-olho do leitor, do tal de feedback. Como não temos, ainda, no Brasil, um calendário constante de festivais onde os artistas interagem com o público, Baraldi faz de suas andanças seu próprio festival.
Mas é preciso sublinhar o Baraldi quase sempre esquecido: ele é dos raríssimos nonoartistas que já têm em casa um Prêmio Vladimir Herzog, foi o quadrinhista escolhido pela melhor revista espírita do Brasil para ilustrar o adeus a esse gigante da sensibilidade pátria que foi Chico Xavier e é autor das ilustrações de 4 livros por uma editora que é sinônimo de cuidado: a Salesiana. Dois deles são emblemáticos do humanismo que habita o coração do Baraldão: 'Cultura de Paz', que 'mostra que é possível construir a paz a partir de posturas simples' e tem a organização do CONIC e 'Geopolítica: O Mundo em Conflito', de autoria de Igor Fuser, na minha opinião, um dos mais brilhantes cérebros da geração de estudantes que reconstruíram a UNE. O biografema se completa ao registarmos que - depois de 23 anos de carreira - Baraldi bate ponto num sindicato de trabalhadores, no centro nervoso de São Paulo, sempre atento a como melhor deslindar os excessos da 'nossa' classe dominante.
Dificilmente, alguém resenha um livro dele sem se referir a esse caráter marcante. O que importa ressaltar é que essa garra gera um artista que - como nenhum outro, no Brasil - vai atrás do olho-no-olho do leitor, do tal de feedback. Como não temos, ainda, no Brasil, um calendário constante de festivais onde os artistas interagem com o público, Baraldi faz de suas andanças seu próprio festival.
Mas é preciso sublinhar o Baraldi quase sempre esquecido: ele é dos raríssimos nonoartistas que já têm em casa um Prêmio Vladimir Herzog, foi o quadrinhista escolhido pela melhor revista espírita do Brasil para ilustrar o adeus a esse gigante da sensibilidade pátria que foi Chico Xavier e é autor das ilustrações de 4 livros por uma editora que é sinônimo de cuidado: a Salesiana. Dois deles são emblemáticos do humanismo que habita o coração do Baraldão: 'Cultura de Paz', que 'mostra que é possível construir a paz a partir de posturas simples' e tem a organização do CONIC e 'Geopolítica: O Mundo em Conflito', de autoria de Igor Fuser, na minha opinião, um dos mais brilhantes cérebros da geração de estudantes que reconstruíram a UNE. O biografema se completa ao registarmos que - depois de 23 anos de carreira - Baraldi bate ponto num sindicato de trabalhadores, no centro nervoso de São Paulo, sempre atento a como melhor deslindar os excessos da 'nossa' classe dominante.
A obra
Mais uma vez, Baraldi teve o cuidado (e esforço) de reunir variados depoimentos, para ajudar a situar a sua produção. Num dos textos, encontramos a comparação do editor da (saudosa) Opera Graphica, o mestre Franco de Rosa, chamando o Marcio de 'Carl Barks do quadrinho despachado'. Tomo o despachado aqui em outro e bom sentido: a do artista cujas ideias fervilham, borbulham, brotam em revoadas. Mas essas ideias são lapidadas com mão de quem conhece bem o ofício.
Para expor suas ideias únicas, Baraldi acrescenta um vasto repertório técnico. Começamos pelo mais difícil: o uso da cor. Claro, cores fortes, rock-n'roll e alegremente vistosas, mas com um senso de dosagem que não é nada comum: em momento nenhum, a explosão visual 'briga' com as estórias. O mesmo, em linhas gerais, podemos (e devemos) dizer do letreiramento, outra gama de técnicas e possibilidades que o artista usa e (não) abusa. O trabalho no item letras é completado com distinção nos títulos das HQs e nas onomatopeias. O desenho merece atenção na capacidade de variações. Olhando atentamente, há personagens inteiros que parecem não ter sido traçados pela mesma mão.
Pois bem, o Baraldi colorista, desenhista, arte-finalista e titulador se completa - mesmo - em sua essência, quando se funde com o narrador. O cara que escolhe o que (e o que não) mostrar, como, e em que ritmo. Baraldão pega situações muito particulares de um determinado grupo social e as mostra com tanta propriedade que imediatamente damos (em nossa mente, certo?) 'carne' a bandas e artistas que às vezes são apenas - para muitos leitores - referenciados em notas curtas de noticiários. Uma lição fundamental, já que o artista se propõe a divulgar o rock nacional, assume essa bandeira e nos convence de uma forma muito capaz e às vezes, insinuantemente insolerte. Cuidado com os muitos e bem aplicados 'cacos' que incluem um Napoelão doidão, velas e caveiras de todos os tamanhos e muito mais. Esses cacos ficam mesmo 'espetados' na memória...
Onde nosso artista escorrega: num ou noutro trocadilho, e, na boa, o álbum precisava ter a indicação, clara, na capa, de que não é leitura 'para crianças'. Uma sugestão é que o Baraldi tente usar mais vezes o espaço em branco em volta da ação, para alterar o ritmo (onde o fez, fez legal...), Para os muitos amigos mais fiéis, fica a sugestão de usar a página 41 (onde está a HQ de uma página só 'Eu Apóio o Metal Nacional) como poster dos rockeiros. Lá, também (aspas), 'de graça', o último quadrinho dá um excelente button...
Mas o melhor está no final, onde são publicadas tiras, quase todas, de 3 quadrinhos: as duas últimas tiras são excepcionais mostras de ritmo e originalidade. Daquelas que 'incomodam' quando a gente fica tentando imaginar o que mais inventar no formato tiras. Baraldi não só inventa como arrebenta...
Como todo bom quadrinho, Roko Loko não vai te largar quando você o depositar em sua estante. Ele vai te fazer pensar, lembrar e rir muito tempo depois...
As extensões pra frente
Não seria justo fechar sem mencionar que o Baraldi é dos caras que ajuda a classe a se ver, se fortalecer e se pensar. Ele promove premiações, entrevistas e muito mais, levantando a bola dos outros, em bem da Nona Arte, no geral, quase sempre, publicando conteúdo a respeito no site Bigorna. Não por acaso, artistas como Mozart Couto comparecem no álbum com desenhos como esse aí de cima, incluído no álbum.
Ah, se todo 'marketeiro' fosse assim...
DUCARVALHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!
ResponderExcluirLINDISSIMO!!!
MUITO OBRIGADO!!!
FIQUEI HONRADISSIMO, MAN!!!
DEUS TE ABENCOE!!!
SUCESSO PRA NOIS!
ABRACAO
BARALDAO